segunda-feira, 29 de março de 2010

Descanse em paz, Isabella


Hoje voltei da UESC decidido a postar no blog, mas estava meio sem um assunto na cabeça. Ao chegar em casa, me deparei com uma revista Veja que tinha como capa a seguinte manchete "Condenados! - Agora, Isabella pode descansar em paz". Vi ali um tema interessante para tratar.

Não que eu vá falar como foi uma vitória para a justiça ver o "casal Nardoni" ser condenado, ou que vá fazer alguma choradeira sobre o impiedoso assassinato de uma garotinha tão branquinha e fofinha como o anjinho que partiu o coração do Brasil. Isso pode ser encontrado à exaustão em qualquer outro lugar. O fato é que eu sou um admirador do sensacionalismo na mídia. Nada contra Isabella, muito menos à favor, o que me encanta/intriga é como um caso como este, que possui semelhantes por todo o país, apenas pelas circunstancias em que ocorreu, consegue este reconhecimento nacional. Digo, o caso Isabella é uma novela, uma estória de horror real, que foi narrada nos mínimos detalhes e explorada à exaustão pelo competente jornalismo brasileiro. E isso foi um elogio.

Não é de hoje que eu vejo os jornalistas como sangue-sugas, principalmente os da área criminal, e não posso negar uma certa admiração por este trabalho. É necessário frieza e competência para poder criar uma atmosfera e um sentimento de horror em torno de um caso, atravez de textos e imagens bem sincronizadas. Eu não culpo a Veja por explorar por uma ultima vez a menininha em sua capa, nem ela nem nenhum outro meio de comunicação. É o que está na boca do povo! Nós acompanhamos, sofremos e vibramos com esse magnífico episódio da história criminal brasileira. Isabella será sempre uma celebridade, assim como Suzane Von Ritchthofen e Francisco de Assis Pereira, o maníaco do Parque - ambos citados na matéria assinada por Laura Diniz, Kalleo Coura, Renata Betti e Gabriele Jimenez. Então, como poderia condenar uma revista que só está dando ao povo o que ele quer?

Para mim esta é parte mais interessante da conversa. Não é qualquer um que pode entrar para o Hall da Fama dos psicopatas tupiniquins. No domingo (21/03), um nóia, de nome José Gilmar Santos do Nascimento, matou a própria mãe a golpes de foice, arrancou a sua cabeça e desfilou nu com o troféu nos braços pelas ruas de Uauá, na Bahia. José foi perseguido pela polícia e fugiu para a caatinga, onde foi encontrado na quinta (25/03) e morto a tiros, "após confronto com os policiais". Os moradores da cidade ficaram impressionados por o cadáver de José não apresentar feridas típicas de quem entrou na caatinga, chegando até a lhe atribuir caráter divino. Uma bela estória de horror. Então, por que José também não virou estrela depois de degolar sua mãe inocente? Ora, alguém aí sabe onde diabos fica Uauá? Talvez este seja um dos segredos do sensacionalismo criminal. Não importa com quem tenha acontecido a barbaridade, isso ocorre todos os dias nesse nosso país. O importante é o quanto o espectador vai se identificar com a matéria! Isabella poderia ser sua filha, sua sobrinha, Suzane Ritchtofen poderia ser sua irmã, e o maníaco do parque poderia ser o mototaxi da sua namorada. O importante é o espectador sentir medo, e reagir a este medo. Ninguém faz passeata quando uma negrinha da favela é estuprada e espancada até a morte pelo avô alcoolatra. Ninguém está nem aí quando um nóia arranca a cabeça da mãe e desfila com ela pela cidade. Mas todo mundo se importa quando um perfeito clichê de menina angelical e inocente da classe média é atirado pela janela do quarto andar. Aí está a magia do sensacionalismo na mídia. Saber escolher o caso certo para explorar e ganhar muito dinheiro, às custas de uma sociedade chocada com a "realidade" que pode estar à espreita na sua esquina.

À parte de tudo isso, elogio a construção da matéria que li, pelo didatismo com que relata o que aconteceu com a menina no apartamento, e como se sucedeu o julgamento. Também pela maneira como constrói um climax de revolta em torno do caso e fecha colocando um sentimento de justiça em nossos corações, alimentando a esperança de que todos os culpados pelos seus crimes serão "investigados, processados e punidos de forma exemplar."

Por fim, como já tirei a minha fatia do bolo, posso também afirmar: "Agora, Isabella pode descansar em paz!"

3 comentários:

  1. É cara, concordo com você. Também fico impressionado com a habilidade que os veículos de comunicação tem de proporcionar um sensacionalismo tão intenso que realmente entra na cabeça das pessoas, vide a quantidade de pessoas presente ao julgamentos dos acusados. Pessoas que largaram seus trabalhos, suas famílias para acompanhar um caso do qual nada tem a ver com nenhum deles, mas aparentemente poderia "acontecer com qualquer um deles".

    Agora que esse caso passou, os sanguessugas criminais descansarão por um tempo até achar algo novo para se deleitar sobre. Bem que poderia ser sobre esse caso de Uauá. Realmente fascinante....

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  2. Eu vi esse caso do cara q matou a mãe...isso acontece todo dia msm...esse foi um caso escolhido e explorado...mas pelo menos a justiça foi feita, quer dizer foi "mostrado serviço"...as pessoas são invadidas por uma idéia de justiça diante da diária idéia de impunibilidade.

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  3. Outro fator de crítica aproveitando o bonde é da própria justiça brasileira. Esta que deixa por anos pessoas sem receber suas idenizações, casos de delitos caírem em prescrição e acúmulos de papéis se amontoarem para o deleite das traças, porém ao ver indícios da mídia presente fazem questão de parecerem competentes e se apressam em julgar o caso, fazendo o caso Isabella "furar a fila" de outros casos para melhorar a imagem do judiciário.

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